PLANTAS DE COBERTURA: ALIADAS DA AGRICULTURA CLIMATICAMENTE INTELIGENTE
Izabel Cristina Vaz Ferreira de Araújo Engenheira Agrônoma – DSc. em fitotecnia e Analista de Manejo Climático no Consórcio Cerrado das Águas
O Brasil é um dos maiores produtores de alimento do mundo, contribuindo para manter a segurança alimentar de toda a população mundial. Os altos índices produtivos obtidos, especialmente nos cultivos de grãos, foram possíveis pela implementação de técnicas como o sistema de plantio direto, onde a semeadura é feita sem revolvimento do solo.
Para que o plantio direto seja eficiente e produtivo, é necessário que o solo não apresente problemas de compactação. Para tanto, desenvolveu-se a ideia de utilizar a palhada da cultura anterior como cobertura do solo, funcionando como um amortecedor dos impactos causados pelas gotas de chuva e pelo trânsito de maquinário, reduzindo assim, a compactação do solo e a necessidade de preparo do solo para o plantio de determinadas culturas. Porém, o não revolvimento do solo pode tornar o ambiente mais úmido e favorável à sobrevivência e multiplicação de pragas e patógenos (doenças) de solo, que atacam as sementes, o caule da planta e o sistema radicular. Assim, foi necessário aliar outra técnica ao sistema de plantio direto, a rotação de culturas, que diversifica a produção da propriedade, auxilia na produção e manutenção da palhada no solo e modifica o ambiente de cultivo, o que ajuda na redução da população de pragas e patógenos chave de cada cultura.
No intuito de melhorar o sistema de produção e promover uma melhor rotação entre as culturas estão sendo introduzidas plantas de cobertura (amendoim–forrageiro, aveias, braquiárias, crambe, crotalárias, ervilhaca, feijão-de-porco, feijão guandú, girassol, milheto, murisco, soja perene, tremoço, trigo, dentre outras), ao sistema de cultivo. As plantas de cobertura são espécies rústicas, que quase não demandam tratos culturais e que possuem uma alta capacidade de produzir biomassa (matéria seca), produzindo altos índices de palhada e aumentando a matéria orgânica do solo. Devido ao sistema radicular vigoroso de algumas espécies, o cultivo de plantas de cobertura melhora a descompactação e capacidade infiltração de água do solo, e, como não haverá colheita de grãos, promove também a ciclagem de nutrientes, de camadas mais profundas para a camadas superficiais do solo, pelo processo decomposição. Existe ainda aquelas espécies de plantas de cobertura que estabelecem uma relação de simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio (N), como ocorre no cultivo de soja, o que leva ao aumento na disponibilidade de N no solo ao longo do tempo.
Por todas estas características as plantas de cobertura são utilizadas com sucesso e boa aceitação nas regiões produtoras de grãos do Brasil e atualmente essa tecnologia também está sendo utilizada em cultivos de plantas perenes, como o café e citros, para auxiliar na descompactação das entrelinhas, promover o crescimento do sistema radicular dos cafeeiros e aumentar a infiltração de água, além de servir de abrigo e alimento para outros seres vivos (inimigos naturais) que auxiliam no manejo de pragas e patógenos do cafeeiro de pragas e patógenos do café.
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Créditos imagem: Arquivo CCA
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