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Dia Nacional do Cerrado é tema apresentado no Programa Mente Aberta

consorcio91

Atualizado: 26 de dez. de 2024

Para conscientizar sobre a importância do bioma, a Secretária Executiva do CCA, Fabiane Sebaio e a Conselheira Consultiva, Larissa Verona, falam sobre a data no Programa Mente Aberta da Rádio Módulo FM


Assista a entrevista completa:


Mente Aberta com Fabiane Sebaio e Larissa Verona

 

Leid Carvalho - Entrevistadora Módulo FM

Olá para você que está ouvindo a Módulo FM, você que acompanha as redes sociais da Módulo FM, porque o rádio agora tem imagem, a gente tem o prazer de começar mais uma edição do nosso Mente Aberta, tradicional às sextas-feiras, e para falar de meio ambiente, fica melhor ainda. A gente recebe aqui, com muita gratidão, a nossa bióloga do Consórcio Cerrado das Águas, a Fabiane Sebaio. Seja bem-vinda, Fabiane, prazer em recebê-la.

 

Fabiane Sebaio – Secretária Executiva CCA

Obrigada mais uma vez aqui para falar do nosso bioma cerrado, e é sempre uma alegria poder falar sobre isso e trazer essas novidades, né, e esse conhecimento um pouquinho sobre o cerrado.

 

Leid Carvalho - Entrevistadora Módulo FM

E hoje a gente tem uma convidada mais que especial, ela está conosco online em Campinas, é a Larissa Verona, ela é bióloga, trabalha com ecologia, e assim, é expert em cerrado, e vai dar uma aula pra gente aqui, especialmente pra mim, porque a Fabiane também é bióloga, sobre o cerrado. E aí, Fabiane, eu queria que você conduzisse com a Larissa, fazendo as perguntas certas, porque o tema do nosso programa hoje é o dia 11 de setembro, que comemora-se o Dia Nacional do Cerrado, esse bioma tão importante que a gente está inserido nele, que é o nosso meio ambiente, né?

 

Fabiane Sebaio – Secretária Executiva CCA

Exatamente, Leid, o Dia Nacional do Cerrado, ele foi criado, se eu não me engano, em 2003, então é recente, né, é um tema que é recente, e é muito importante a gente falar, né, a gente lembrar, né, Larissa, dessa data, desse momento, porque esse momento é um momento muito importante porque a gente tem que falar do bioma cerrado com tantas características, um lugar com paisagens diferentes, com características diferentes, com espécies que são chamadas de endêmicas, que só ocorrem aqui, mas eu acho que a gente pode convidar a Larissa, porque ela, mais do que ninguém, entende disso, ela vive isso, ela está lá, ela pesquisa, né, mora, já morou em Alto Paraíso, então, naquele paraíso...

 

Leid Carvalho - Entrevistadora Módulo FM

Não, em Alto Paraíso, você morou lá, Larissa, deixa eu te apresentar devidamente, né, a Larissa é pesquisadora da Unicamp, ela mora em Campinas, mas é mineira, de Conselheiro Lafayette, e aí você, Fabiane, faz as perguntas corretas para ela, porque você é uma super especialista também, eu queria que você conduzisse com a Larissa.

 

Fabiane Sebaio – Secretária Executiva CCA

Então, Larissa, eu queria que você contasse para todo mundo primeiro, né, sobre esse bioma, né, o que é esse bioma cerrado, ele é um bioma da onde, aonde que isso ocorre, né, conta para a gente, fala um pouquinho do geral desse bioma cerrado, ele é só de Minas Gerais, esse bioma?

 

Larissa Verona – Pesquisadora UNICAMP

Claro, Fabi, com certeza. Então, o cerrado, gente, ele é o segundo maior bioma do país, do Brasil, então ele ocorre, a gente sabe, assim, do lado da Amazônia, entre a Amazônia e faz limite com a Mata Atlântica, com a Caatinga, com o Pantanal, é um bioma de savana, uma savana, é a maior savana, é a savana mais biodiversa do planeta. Então, a gente conhece muitas savanas, pensando no filme do Rei Leão, naqueles ecossistemas que a gente vê no cinema, mas a savana não ocorre só na África, ela ocorre também no Brasil, e no Brasil, a gente tem esse representante maravilhoso que é o cerrado. Eu gosto de falar que o cerrado, ele tem, ele é o bioma dos opostos, né? No cerrado, a gente tem o ecossistema da água e o ecossistema do fogo, das plantas, das árvores e das plantas pequenas. Então, quando a gente fala de savana, a gente está sempre falando de um bioma, de um ecossistema onde a gente tem árvore e tem grama, e ao mesmo tempo tem árvore, tem planta pequena, que essa é a cara desse ecossistema que é tão importante para a gente, para a manutenção da biodiversidade, da água, da alimentação no país inteiro, da economia.

 

Fabiane Sebaio – Secretária Executiva CCA

Larissa, eu vim do Paraná, e lá eu fui acostumada, quando era pequena, de ver muitas árvores, ler de árvores grandes, meio lá de Mata Atlântica, mas eu sou apaixonada pelas árvores do cerrado. Aprendi a amar isso aqui, aprendi a gostar, mas eu vejo muita gente dizendo, ah, é feio, é retorcido, ou não, isso é um pasto, porque às vezes tem um ambiente ali que só tem algumas árvorezinhas e elas são todas retorcidas. Conta para a gente, isso é normal? Essas árvores são desnutridas? Essas árvores não são dali, não deveriam? Por que essas árvores são assim? Conta para a gente, como é esse bioma? Como é que são essas árvores?

 

Leid Carvalho - Entrevistadora Módulo FM

Parece que o vento que molda elas, né, Larissa? Se a gente vai caminhar aqui no cerrado, a árvore está toda retorcida, o que eu acho muito bonito. É o vento que fica moldando elas ali?

 

Larissa Verona – Pesquisadora UNICAMP

Ah, gente, eu acho que a beleza do cerrado, eu gosto de conversar com quem gosta do cerrado, que a beleza do cerrado está nos detalhes. Então, quando a gente pensa assim, ah, eu vou pensar numa floresta, aquelas florestas exuberantes, você cria essa perspectiva na distância, né? O cerrado, a beleza dele está de você olhar na plantinha pequena, na florzinha que está ali no detalhe, que está no cantinho da árvore. Então, o cerrado, ele é formado, como a Fabi falou, tanto por essas árvores retorcidas, que são árvores, a gente chama as árvores tortas do cerrado, que elas são assim por conta da característica do solo do cerrado. Então, no cerrado, a gente tem um solo com um pouco menos de nutriente que quando a gente compara com outros ecossistemas, mas isso não é ruim para o cerrado, isso é excelente, isso permite que o cerrado seja como ele é. Então, as características do solo fazem com que essas árvores sejam mais tortinhas e também a ocorrência de fogo natural, não o fogo antrópico que as pessoas põem, mas o fogo que acontece naturalmente há séculos no cerrado, junto com a relação do solo, dos nutrientes do solo, uma quantidade menor de nutrientes. E a estação seca muito marcada, então, quem vive no cerrado sabe que chega nessa época estar com a pele seca, que falta chuva, né? Essa estação seca muito marcada faz com que o cerrado tenha essa coexistência de árvores, mas também que tenha um ecossistema que a gente chama de ecossistema aberto. Então, a gente tem muitas áreas onde a gente não tem uma densidade de árvores, se você chega e você vê uma floresta. O cerrado não é uma floresta. Então, ele é formado por esses campos, com uma diversidade de plantas pequenas dentro do campo, às vezes a gente olha a distância e acha que é um pasto, como a Fabi falou, mas não é um pasto, é um campo nativo. E esses campos nativos, eles podem ter até 10 mil espécies de plantas. Então, enquanto a gente tem cerca de 1.800 espécies de árvores no cerrado, nós temos quase 11 mil, de 10 a 11 mil espécies de plantinhas pequenas. Então, que são as gramas, os diferentes tipos de gramas, em um metro quadrado a gente pode achar mais de 50 tipos de plantas pequenas, entre gramas, algumas ervas, alguns arbustinhos. Então, essa característica do cerrado, que às vezes a gente olha pra ele, e acha que está desmatado, está degradado, não tem árvore. Esse é o segredo do cerrado, é a coexistência de plantas arbóreas, de plantas grandes com plantas pequenas, que faz a gente ter tanta diversidade, que seja a savana mais biodiversa do planeta, e que também seja o ecossistema que traz água, que traz vários serviços ecossistêmicos para as pessoas. Então, quando a gente olhar para aquela árvore torta do cerrado, fala, nossa, parece que foi moldada pelo vento. Lembrar que aquela árvore, as características dela, coexistindo com as outras plantas ao redor, com as plantinhas pequenas, que permitem que a gente tenha um ecossistema tão bonito e importante. E aí, da próxima vez que vocês forem andar numa área nativa de cerrado, olha pra baixo, olha para as plantinhas pequenas, para as florzinhas, porque a diversidade, quando a gente começa a perceber a diversidade de cores, diversidade de flores, diversidade de aromas, que as plantas pequenas do cerrado têm, é impossível não se apaixonar. É impossível olhar de novo para uma árvore enorme, para uma floresta super densa, e achar que é mais bonito ou mais importante do que aquele campo nativo com centenas de espécies pequenas, centenas de gramas, centenas de flores que são super importantes.

 

Fabiane Sebaio – Secretária Executiva CCA

Nossa, ela falando, a gente já foi.

 

Leid Carvalho - Entrevistadora Módulo FM

Não, e eu fico assim, eu acho que está meio boba, porque eu fico tirando foto de todas as plantinhas, as florzinhas do cerrado, e eu fico impressionada com a paleta de cores do cerrado.

 

Larissa Verona – Pesquisadora UNICAMP

É maravilhosa, né? Chega agora na estação seca, que começa a ter uns tons de cinza, uns tons esverdeados, ou às vezes já tem uns campos dourados no final da tarde, é coisa de filme.

 

Fabiane Sebaio – Secretária Executiva CCA

Larissa, e mais uma pergunta, só para provocar aqueles que não veem o valor no cerrado, né? Eu quero trazer esses para o lado de cá, para a gente mostrar o tanto que o nosso cerrado é maravilhoso. Todo cerrado vai virar floresta?

 

Larissa Verona – Pesquisadora UNICAMP

Esse é um ponto importantíssimo, Fabi. Todo cerrado vai virar floresta. Será que o cerrado deveria ser floresta? Qual que é a diferença disso, né? Bom, a gente sabe pelo conhecimento científico, que a gente acumulou ao longo dos últimos anos, que existem algumas coisas que mantêm o cerrado como esse ecossistema aberto. Então, como esse ecossistema que não é ecossistema florestal. Existem outras savanas do mundo, como a savana africana, por exemplo. Na África, a gente tem essas grandes manadas de bichos, a gente tem elefante, tem grandes mamíferos que comem as gramas, comem as árvores e impede que a floresta se desenvolva. No cerrado, a gente tem outra limitante, outro fator limitando o crescimento dessas grandes plantas, que em algumas regiões do cerrado é o fogo. Então, nas regiões mais limite do cerrado com a floresta, o fogo ajuda a controlar a chegada de grandes árvores, mas o fogo natural, o fogo que acontece em pequena escala, o fogo que acontece depois de uma chuva com raio. E nós temos também as características do solo, Fabi. Então, o solo, às vezes um solo curto dependendo da região e um solo com menos nutrientes não vai permitir que ali se desenvolva uma floresta. Então, o cerrado, a gente não quer, ele não precisa ser uma floresta. Ele, como a sua vegetação aberta, cumpre suas funções muito bem.

 

Leid Carvalho - Entrevistadora Módulo FM

Fabi e Larissa, eu quero pedir para vocês um breve intervalo aqui, e a gente volta em um minuto para continuar falando desse assunto tão bacana. Eu estou encantada ouvindo vocês duas sobre o Dia Nacional do Cerrado, que é 11 e 4 de setembro, e a gente está conversando sobre e voltamos em um minuto. Olá, voltamos com o nosso Mente Aberta dessa sexta-feira, falando, já antecipando a comemoração do Dia Nacional do Cerrado, aqui o local onde a gente vive. E conversando hoje com duas grandes profissionais da biologia, que é a Fabiane Sebaio, do Consórcio Cerrado das Águas, e a Larissa Verona, que é pesquisadora da Unicamp, e fez a gentileza de conversar com a gente aqui, a convite da Fabiane, aqui para a Módula FM. Fabiane, Dia Nacional do Cerrado. Gente, eu estou muito feliz de estar conversando com vocês sobre o cerrado.

 

Fabiane Sebaio – Secretária Executiva CCA

É, é muito bom, né? A gente saber um pouco mais do lugar que a gente vive, né, Leid? De entender um pouco mais dessas interações. E a Larissa, ela falou sobre os detalhes, né? Os detalhes do cerrado. E quando fala em detalhes, eu penso no que está acima do solo, e no que está abaixo do solo, né? Nós somos o Consórcio Cerrado das Águas. E um dos motivos de sermos Consórcio Cerrado das Águas é exatamente proteger as águas. Melhorar a produção de água, conservar as águas, né? Manter a água disponível no sistema como um todo, né? E quando a gente fala no sistema, é no solo, é no rio, é no ar. E aí, Larissa, eu fico... Te pergunto, né? Esse detalhe das raízes abaixo do solo, o que isso tem a ver com as águas, né? Por que isso é tão importante, né? Essas raízes do cerrado. Qual é a diferença disso para outros biomas, né? Onde que entram essas raízes nessa história toda, né? Por que elas têm um papel extremamente importante? Ah, e só mais um detalhe. Por que quando a gente desmata uma área, a gente perde água?

 

Larissa Verona – Pesquisadora UNICAMP

Legal, Fabi, obrigada. Eu acho que era essa a pergunta de ouro, né? Bom, a gente falou, você falou das árvores tortas, as árvores do cerrado são um pouco diferentes. E às vezes elas não são tão altas, né? As árvores do cerrado, elas são menores do que as árvores só do Paraná, que você comentou. Mas isso quando a gente olha para cima do solo. Se a gente conseguir se olhar para baixo do solo, a gente vai ficar impressionado com a profundidade que as raízes do cerrado podem ter. Então, isso acontece porque o cerrado é um sistema que tem uma seca, quatro meses de muita seca, chove no máximo 5% da chuva anual nesses meses de seca. E durante esse período, as árvores precisam beber água. Então, o que elas fazem? Elas buscam água profunda. Então, essas raízes, elas podem chegar até 18 metros de profundidade para uma árvore que tem... para uma plantinha. Isso não é nem para uma árvore, para uma plantinha. Essa que eu estou contando para vocês. Uma plantinha que tem nem meio metro. É um arbusto, né? Tem meio metro de altura acima do solo. Para baixo do solo, pode ter até 18 metros. Isso é um prédio de seis andares para baixo do solo. Ela vai buscar essa água lá no fundo. Então, essa... Mais de 70% de todas as plantas do cerrado, a biomassa que a gente fala, né? Que é o peso, né? Que é realmente o corpo da planta, está abaixo do solo. Está enterrado. E são essas raízes super profundas que ajudam que a água da chuva infiltre e fique armazenada no solo. Então, esse detalhe das raízes super profundas permite que a água chegue abaixo do solo. Mas o que permite que a água fique abaixo do solo, que ela fique ali por muito tempo, é essa permanência de árvores... de algumas árvores com plantas pequenas. Então, as plantas pequenas... Planta é como nós, assim, né? Eu tenho 1,60m. Vocês não estão vendo na imagem, mas eu tenho 1,60m. Eu com 1,60m, um prato de 300g me sustenta. Agora, o Michael Jordan, lá com seus 2 metros de altura, jogador de basquete, ele não vai comer um prato de 300g. Ele vai comer um prato com maior peso, né? É a mesma coisa para a água. Então, uma árvore de 3, 4 metros, ela usa muito mais água do que uma plantinha pequena. Então, essa água... Como o Cerrado tem muitas plantas pequenas, toda essa água que entra da chuva, durante a estação úmida, e que consegue chegar no fundo por conta das raízes, ela não é usada em grande quantidade, porque nós temos muitas plantas pequenas que usam pouca água. Então, essa água fica armazenada no solo e consegue surgir nas nascentes dos nossos rios, formar cachoeiras, formar lagos e abastecer as bacias do Brasil. Então, esses são os segredos. E aí, quando a gente desmata... Você perguntou, né, Fabi? Quando a gente desmata, o que acontece? Tem vários processos. Primeiro, quando a gente desmata, a gente está tirando essas plantas que ajudam a água a infiltrar e que ajudam a água a permanecer. Mas quando a gente desmata e planta uma monocultura de soja, quando a gente planta um pasto, a gente começa a compactar o solo também. Então, você coloca o pasto ali, você compacta o solo. Quando eu compacto o solo, a água da chuva que no Cerrado infiltra e fica armazenada embaixo da terra, não consegue infiltrar mais. Então, ela começa a escoar lateralmente. Quem trabalha no campo, quem é produtor rural, sabe que isso tem que ser controlado, esse escoamento lateral, que isso é prejudicial para a plantação. Então, tirar o Cerrado e modificar a forma como o ecossistema funciona impede que a gente guarde tanta água lá embaixo.

 

Fabiane Sebaio – Secretária Executiva CCA

Larissa, a gente vai voltar nessa parte da compactação do solo e no papel do consórcio em relação a isso. Mas de onde vem essa água que cai no Cerrado? Ela vem do mar? Ela vem de onde, essa água que cai no Cerrado? Me conta para a gente.

 

Larissa Verona – Pesquisadora UNICAMP

Legal. Porque a gente costuma falar que o Cerrado é a caixa d'água do Brasil, né? Mas ele não é o chuveiro do Brasil. Ele é a caixa d'água, ele é a armazena. Então, o Cerrado, ele é muito importante para guardar a água da chuva. E outros ecossistemas são importantes para mandar água para a atmosfera. A água que chove aqui no centro do Brasil, na região do Cerrado, que é a região central do Brasil, ela vem predominantemente da evaporação dos oceanos. Então, a gente tem correntes atmosféricas que acontecem em todo o continente e essas correntes atmosféricas carregam essa água do oceano para dentro do continente durante a estação chuvosa. Durante a estação seca, por conta de mudanças nas correntes, essa corrente não consegue chegar e a gente tem uma estação seca pronunciada. Então, por mais que a gente mude o Cerrado, ah, vamos plantar uma floresta, então vamos desmatar todo o Cerrado. O padrão de chuva de estação seca, ele se mantém, porque isso depende de um padrão do oceano com a atmosfera, de uma conexão que acontece muito complexa do oceano com a atmosfera. Então, o segredo do Cerrado, o que o Cerrado tem de muito importante é armazenar a grande chuva que vem durante a estação seca debaixo do sol. Legal?

 

Leid Carvalho - Entrevistadora Módulo FM

Gente, que maravilha, estou aqui me deliciando ouvindo vocês.

 

Fabiane Sebaio – Secretária Executiva CCA

Eu quis provocar em relação a isso e fazer essa pergunta, Lady, porque isso mostra a importância que nós temos para o Brasil todo.

 

Leid Carvalho - Entrevistadora Módulo FM

Me preocupou, depois de tudo que eu ouvi aqui, me preocupou muito.

 

Fabiane Sebaio – Secretária Executiva CCA

O Cerrado, e principalmente aonde nós estamos, porque aqui nascem as nascentes dos maiores rios. A gente tem a nascente do Rio Paranaíba, a gente tem a nascente do Rio São Francisco, tudo aqui muito próximo da gente. Então, esse lugar que nós estamos, ele tem uma importância estratégica para a produção de água muito grande. E ser essa caixa d'água do Brasil é abastecer, se não me engano, quase 90% de todos os brasileiros. Dependem dessa água que vem daqui. E aí a gente leva um outro raciocínio. Bom, se esse sistema da água que cai aqui vai vir de outro lugar e não adianta a gente ficar plantando floresta porque isso não vai mudar, conta para a gente, Larissa, sobre isso. Me preocupa muito, porque hoje a gente tem uma ideia de que plantar árvore no Cerrado em qualquer lugar é a solução.

 

Leid Carvalho - Entrevistadora Módulo FM

E não é assim.

 

Fabiane Sebaio – Secretária Executiva CCA

E aí, é a solução? Isso é um...

 

Leid Carvalho - Entrevistadora Módulo FM

Pela explicação que vocês estão dando, a questão é muito mais complicada.

 

Larissa Verona – Pesquisadora UNICAMP

Acho que a solução está da gente entender as complexidades de cada lugar e entender e valorizar esses lugares. É isso que a Fabi falou, muito importante. Então, o Cerrado é responsável por 8 das 12 bacias hidrográficas brasileiras. Isso significa que o Cerrado abastece a bacia hidrográfica da Amazônia. Então, quase metade da água que vai chegar nos rios da bacia amazônica nasce no Cerrado. O Cerrado é responsável... A gente pensa na Amazônia, muita água, mas um monte nasce no Cerrado. O Cerrado é responsável por abastecer o Pantanal, por abastecer todo... Então, a gente está vendo o Pantanal secar nos últimos anos? Por que será? A gente está desmatando cada vez mais rapidamente o Cerrado, a água não chega no Pantanal. O Cerrado abastece todo o Sudeste, toda a região Sudeste, e abastece a bacia do Rio São Francisco, que mantém a região Nordeste, que é a região mais seca do país, que é a principal fonte de água da região Nordeste. Quando a gente pensa em plantar árvore, a gente está pensando em reflorestar ecossistemas que já são florestas, a Mata Atlântica, Amazônia e alguns outros ecossistemas, a gente garante as árvores são excelentes para tirar a água do solo e mandar para a atmosfera, e isso ajuda a ter chuva. Então, na Amazônia, a gente precisa de muitas árvores que tirem a água do solo e mandem para a atmosfera, porque vai chover bastante na Amazônia, e essa chuva da Amazônia, ela vem um pouco para São Paulo, ela vem um pouco para o Centro-Oeste, ela se distribui pelo país. Mas, se a gente planta muita árvore, olha a lógica, se a árvore é importante para tirar, ela é muito boa de tirar a água do solo e mandar para a atmosfera, e a gente fala que a importância do Cerrado está em manter a água no solo, se eu começo a plantar muita árvore no Cerrado, se eu começo a colocar floresta onde não é floresta, onde é savana, o que eu estou fazendo é tirar a água da caixa d'água e mandar para cima, para alguma região que a gente não sabe para onde vai essa água, ela não vai chover em outras regiões. A gente precisa da água da chuva, mas a gente precisa da água do rio, da água nascendo, a gente precisa dessa dinâmica, é tudo conectado, né? Então, a gente precisa da água que está armazenada e precisa da água que vem da chuva. Então, quando a gente...

 

Fabiane Sebaio – Secretária Executiva CCA

Plantar árvore é importante, mas tem que ser no lugar certo, né?

 

Larissa Verona – Pesquisadora UNICAMP

Tem que ser no lugar certo. No Cerrado, o segredo do Cerrado para ser a caixa d'água do Brasil é ter um ecossistema de plantas pequenas, o ecossistema que a gente chama de ecossistema aberto. Em consórcio, né? Junto com essas árvores retorcidas e tão especiais do Cerrado que levam a água mais pro fundo. É esse o segredo.

 

Leid Carvalho - Entrevistadora Módulo FM

Eu, assim, fico impressionada ouvindo vocês duas e eu queria já pedir para vocês uma mensagem para esse dia nacional do Cerrado que é 11 de setembro e a gente já está aqui comemorando, no sentido de comemorar porque a vida é uma comemoração, mas também as ponderações brilhantes que vocês fizeram sobre o que é preservação, o que é Cerrado, porque as pessoas não fiquem com as ideias erradas. Então, eu deixo o microfone para vocês fazerem as suas considerações e a mensagem das duas. Duas biólogas aqui que honram para a gente.

 

Leid Carvalho - Entrevistadora Módulo FM

Começando com você, Fabi, falando do dia nacional do Cerrado.

 

Fabiane Sebaio – Secretária Executiva CCA

Falei que era rápido, tá, Larissa?

 

Leid Carvalho - Entrevistadora Módulo FM

Não, Larissa, assim, eu quero ter a liberdade, né, de te convidar diversas outras vezes para você falar para a gente sobre.

 

Fabiane Sebaio – Secretária Executiva CCA

A gente fica com vontade de falar mais, mas eu li uma frase essa semana que está mexendo muito comigo, assim, né, não é sobre ser dono, e sim fazer parte. E eu fiquei pensando nisso, né, não é sobre ser dono de um pedaço do Cerrado, mas fazer parte daquele lugar. E aí essa frase me remeteu à frase que o nosso Marcelo, o presidente Marcelo Hurtado, ele fala, né, que a natureza é sócia, ele fala que a natureza é uma sócia da propriedade dele. E eu acho que hoje, nesse dia nacional do Cerrado, a gente tem que olhar para essa vegetação nativa com esse olhar. Como que a gente pode viver, né, no bioma Cerrado, cultivando, mas ao mesmo tempo não perdendo essas características? A gente não pode perder essas características de ser a maior caixa d'água do Brasil, né, de infiltrar essa água. A gente não pode querer transformar um pasto, que a gente às vezes fala pasto sujo, né, num pasto ali de Cerrado, que não é pasto, ele é um bioma, ele é um ecossistema, e achar que aquilo não tem valor, aquilo tem um valor gigantesco. Então acho que a mensagem é essa hoje, né, é a gente pertencer, é a gente se sentir parte desse bioma que é maravilhoso. Basta ir para o campo aí, olhar para os detalhes, como a Larissa falou. Eu vou ser o que eu posso, o que eu gosto muito. Que eu acho que não tem como não se apaixonar, né, não tem como.

 

Leid Carvalho - Entrevistadora Módulo FM

Larissa, você é apaixonada pelo Cerrado, que fez disso um objeto de estudo para a sua vida, né?

 

Larissa Verona – Pesquisadora UNICAMP

Maravilha, nossa, eu não sei, não tem nem o que falar depois do que o Fabi falou, né? Mas é o que eu queria agradecer, e espero que quem esteja ouvindo consiga, da próxima vez que estiver do lado de fora, estiver numa área nativa, consiga olhar para esses detalhes e consiga ver essa beleza que está na contemplação, que está na natureza, que existe por si só, e que permite que nós estejamos aqui, né, e que permite que a gente tenha área para plantar, que a gente tenha água para beber, tem comida para comer. Então, tudo que nós somos depende da natureza. Então, o que o Marcelo falou é a paz pura verdade, e quanto antes a gente perceber isso, mais rápido a gente vai conseguir construir uma sociedade possível para o futuro, né? A gente não pode...  Então, é urgente que a gente se reconecte com esses detalhes e com esse valor que é intrínseco, que nós pertencemos ao planeta, nós somos natureza também. A gente precisa ver isso como um todo.

 

Esse foi o Mente Aberta de sexta-feira. A gente agradece imensamente aqui a pesquisadora, a Larissa Verona, que é pesquisadora da Unicamp. Esteve com a gente aqui a convite da Fabiana Sebaio, que é bióloga do Consórcio Cerrado das Águas. A vocês duas, muito obrigada, nosso ouvinte internauta. Fiquem com Deus, boa semana e até a próxima sexta. Você ouviu, na Módulo FM, Mente Aberta. Mente Aberta.

 
 
 

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