Por que a Conservação do Cerrado é Essencial para os Recursos Hídricos?
A conservação do Cerrado é um tema essencial para garantir a manutenção dos recursos hídricos, a biodiversidade e a sustentabilidade da produção agrícola. Para aprofundar essa discussão, a bióloga e pesquisadora Larissa Verona, da UNICAMP, apresentou uma palestra detalhada sobre o papel desse bioma e seus desafios.

Durante sua apresentação, Larissa destacou:
O Cerrado como um hotspot de biodiversidade, sendo a savana mais rica do mundo
O papel essencial do bioma na infiltração da água e na recarga dos aquíferos
A relação entre a vegetação nativa e a qualidade da produção agrícola
Os desafios da recuperação de pastagens degradadas e estratégias para restauração
Como a polinização natural pode aumentar a produtividade e rentabilidade na cafeicultura
A palestra trouxe dados científicos e exemplos práticos sobre como a conservação do Cerrado pode beneficiar diretamente produtores e toda a sociedade.
Acompanhe a transcrição completa da palestra e acesse o material de apoio para entender melhor os desafios e soluções apresentados. Você também pode ouvir no Spotify para uma experiência mais completa.
Agora, confira os insights compartilhados por Larissa Verona e entenda por que a conservação do Cerrado é fundamental para o equilíbrio ambiental e a produção sustentável no Brasil.
Transcrição
O Bioma Cerrado - Larissa Verona - UNICAMP
Polliana Dias | Cerimonialista
E agora nós teremos a palestra importância da vegetação nativa na manutenção dos recursos hídricos do bioma Cerrado com a Larissa Verona. Enquanto ela se encaminha e se prepara, nós vamos conhecer seu currículo.
Larissa é bióloga e professora formada pela Universidade Estadual de Campinas. Mestranda em biologia vegetal pela mesma universidade, é pesquisadora pelo Centro de Ecologia Integrativa da Unicamp. Há oito anos estuda o Cerrado, sempre buscando entender a interação entre o solo, água, vegetação e clima. Em suas pesquisas, busca compreender como o Cerrado funciona a fim de promover estratégias eficientes de conservação e restauração de áreas degradadas.
Atualmente, estuda a importância das veredas e campos úmidos do Cerrado para controle das mudanças climáticas. Seja bem vinda, Larissa!
Larissa, mas nós vamos precisar usar o microfone pra gente gravar os conteúdos, se você não se importar.
Larissa Verona | Bióloga e professora pela UNICAMP
Obrigada, gente. Obrigada, Fabi. Eu queria agradecer por estar aqui, por contribuir com vocês. E eu queria saber quem aqui é produtor, quem é que é da região. Legal. Quem é da região daqui? São essas pessoas. Legal.
É, eu também sou. Eu queria falar um pouco, eu nasci no Cerrado Mineiro, ali perto de Belo Horizonte. Mas por muito tempo eu não entendia onde eu estava, eu não entendia o que que era Cerrado. Então, eu cresci meio assim, onde eu estou, né? Que paisagem é essa? É onde eu estou inserida, e eu gostava muito de natureza, eu ia buscar a natureza quando a gente ia pra praia. É para Guarapari, Cabo Frio, então passava pela Serra do Mar, aí eu olhava aquela Floresta Atlântica exuberante, falava, nossa, isso é natureza, agora está melhor. Aí eu vi, lá havia aquela coisa exuberante, né? Mas eu fui descobrir o Cerrado, a beleza do Cerrado, quando eu saí do Cerrado. Fui para São Paulo, fui para Campinas, onde não tem Cerrado, tem muito pouco Cerrado, fui para Goiás para voltar para Minas e entender, conseguir ver o que que era Cerrado, a beleza e a importância desse ecossistema. Então, a ideia que eu quero fazer aqui hoje, não dá para ver muito bem nessa imagem, mas é transformar essa imagem meio nebulosa do que é o Cerrado em algo mais claro, para a gente ver os detalhes e a beleza desse ecossistema e a importância dele para o que a gente está que nós vamos falar aqui hoje, tanto para manutenção de recursos hídricos, mas também para alguns outros bens muito valiosos que a conservação desse bioma pode trazer para gente enquanto pessoa, enquanto produção. Então é isso que eu vou tentar fazer com vocês rapidinho para a gente conseguir ver. Depois eu mando essa imagem aqui para vocês, mas é uma imagem espetacular aqui desse fotógrafo André Dib, que mostra a exuberância desse ecossistema que a gente não pode perder ao longo dos anos.
Mas para começar, eu queria perguntar, o que que é Cerrado, gente? O que que vocês entendem como Cerrado? Cerrado é algo parecido com isso? O que que vocês acham? Esse é o Cerrado que vocês conhecem aqui na região? Essa mistura de um extrato arbóreo, né? Então a gente tem algumas árvores com o extrato herbáceo. Cerrado é esse ecossistema que ele parte lá do limite com Amazônia, vai até o limite com a mata Atlântica, divide ali com a caatinga, com os Pampas, então ele tá bem no centro do Brasil, recebendo influência de todos os ecossistemas e recebendo influência de plantas, de animais, de água, de todos esses ambientes, também. É quando a gente define Cerrado. Uma das primeiras definições que a gente tem é que ela é uma savana brasileira. E savana é exatamente isso aqui, essa composição onde a gente tem árvores e a gente também tem grama. Então, a gente tem plantas herbáceas, que são os arbustinhos, as ervas e as árvores em cima, mas sem fazer uma cobertura total da vegetação, sem cobrir completamente as copas com copas. Então, a gente tem essa vegetação um pouco aberta. Isso é uma savana, assim como a savana do ``Rei leão´´, por exemplo, que a gente vê lá nos filmes, savanas africanas que o pessoal faz os safári e tudo. O Cerrado é uma savana. Mas o Cerrado também é isso. O Cerrado também são campos, isso parece, pode parece pode parecer de primeira vista uma pastagem, mas isso é um campo nativo muito bem preservado, com uma diversidade de espécies de gramas muito grande. Aqui a gente não tem as gramas que são usadas para pastagem, braquiária, melines, mas a gente tem dezenas e centenas de espécies nativas. Então o Cerrado também é isso, nenhuma árvore, também, é Cerrado. O Cerrado, também, é isso, esses ecossistemas de veredas que são valorizados na nossa cultura. Então a gente tem literatura nacional, Grande Sertão Veredas, coisas maravilhosas, valorizando a existência desse ecossistema, que é uma Vereda que além de ser beleza para os olhos, né? É, ele também é muito importante para a manutenção dos nossos recursos hídricos hoje. Ele é um ecossistema que permite que as populações do Cerrado tenham água ao longo de todo o ano. Que não falte água para os animais e para as plantas. Então, isso também é Cerrado. Isso também é Cerrado. Floresta, também, é Cerrado. Ao redor dos rios, é ao redor de matas, matas de Galeria, e matas ripárias, também, são Cerrado. Então, a gente também tem florestas, normalmente numa escala menor, mas também escalas muito grandes, como essa foto aqui que tá meio escura, mas a gente tem aqui ao redor de um rio uma floresta bem densa. Então, tudo isso é Cerrado. O Cerrado é difícil de definir como único ecossistema. Na verdade, o Cerrado é um mosaico de vegetações. É essa a forma mais plausível da gente pensar sobre ele. E eu acho que essa foto, ela resume muito bem o que a gente quer falar, quando a gente fala de mosaico de vegetações. É, a gente tem aqui uma paisagem campestre, uma paisagem de campos e dentro dessa paisagem de campos a gente tem uma alguns outros elementos que constituem esse ecossistema. Então, a gente tem a savana, que eu acabei de comentar para vocês. Aqui no campo, a foto não dá para ver muito porque está um pouco claro, aqui a gente tem um campo um pouquinho mais verde, que é um campo úmido. Você chega lá, você atola os seus pés. Eu acho que você já deve ter visto um ambiente que você chega e você atola os pés. Aqui tem um campo úmido, então onde é uma nascente e atrelado ao campo úmido, a gente tem uma vereda que é aquele ecossistema super bonito, que Guimarães Rosa faz livro e a gente faz novelas e filmes sobre ele. Também associado a um curso d'água. Lá no fundo a gente tem uma floresta associada a um rio maior, provavelmente, então essa água está nascendo aqui. Ela segue por um caminhozinho aqui, se vocês veem na foto e aqui atrás chega numa mata. Então a gente tem uma mata de galeria. Ali atrás a gente tem um elemento constituinte do Cerrado, um fogo natural. Não é o fogo antrópico que destrói as vegetações de cerrado e de floresta em todo o Brasil. Mas é um fogo natural que ocorre no final da estação chuvosa e que modula essa vegetação, diminuindo a densidade em alguns pontos do Cerrado. Em outros pontos, o cerrado ajuda na floração desses Campos, ajuda na diversidade de espécies. Então, as gramíneas, elas começam a acumular muito matéria seca durante a seca, e o fogo vem e controla isso, também. Então, essa imagem, ela dá uma resumida, muito boa, para a gente pensar que esse ecossistema é um ecossistema diverso. Se a gente pensar, ele homogeneamente, primeiro que ele se distribui no Brasil inteiro, né? Mas se a gente pensar de maneira homogênea, a gente pode estar excluindo esses elementos que às vezes são pequenas ilhas. A Vereda é uma pequena ilha. Em alguns lugares a savana é ilha, em outros campos são ilhas, mas são ecossistemas que estão dentro desse conjunto que forma o Cerrado e que vai promover tudo que o Cerrado traz para gente. Beleza?
(Frases que não é possível entender sem o contexto das fotos compartilhadas no Material da Palestra).
Então aqui, nos materiais do Consórcio, tem essa imagem. Quem não conhece, é uma imagem que resume um pouco do Cerrado. E quando eu falo mosaico de vegetações, o nome para isso é fitofisionomia. Fito, é planta fisionomia, é rosto. Então, é a cara da vegetação. Então, essas aqui são as principais fitofisionomias do Cerrado. Desde formações florestais até formações campestres na sua, em sua toda extensão. Então, essa diversidade de vegetações. O que eu queria mostrar aqui para vocês é que a gente tem algumas formações florestais, formações florestais associadas a água, formações florestais associadas a campos secos. Mas a maior parte das vegetações não são florestais, são essas formações savânicas, onde a gente tem uma composição de árvore e uma composição de campo. E as formações campestres, onde a gente tem basicamente gramíneas, arbustos e ervas. Ok?
Então, a predominância das vegetações do Cerrado são vegetações abertas. São vegetações onde a gente tem uma densidade de árvores menor do que a gente tem numa floresta. Então, aqui a gente tem várias imagens, a gente tem algumas vegetações abertas, um pouco mais densas. Mas a gente também tem vegetações abertas, bem abertas, sem nenhuma árvore, como essas imagens desses campos de chuveirinho. Como essas imagens de veredas, também. E toda essa estrutura permite que o Cerrado seja um ``hotspot´´ de biodiversidade. Vocês conhecem esse termo? ``Hotspot´´. Todo mundo sabe o que é que isso significa? ``Hotspot´´ de biodiversidade são ambientes no planeta, que são extremamente diversos de plantas e animais endêmicos, ou seja, plantas e animais que só existem naquele lugar e que estão em risco. E no Brasil, a gente tem hotspots, que não é a Amazônia. Um deles é o Cerrado e o outro é a mata Atlântica. Porque são ecossistemas extremamente endêmicos, extremamente em risco, também, de se perder essa biodiversidade e de grande importância para a biodiversidade mundial. Então, todas as áreas em vermelho são essas áreas de grande relevância para a conservação da biodiversidade. Para vocês entenderem um pouco do tamanho da biodiversidade do Cerrado, a gente tem aqui no nosso, nesse ecossistema, 5% de todas as espécies do mundo estão no Cerrado e 30% de todas as espécies do Brasil também ocorrem no Cerrado. Então, uma uma área que ocupa 25% do território, abriga 30% de todas as espécies do Brasil e 5% de todas as espécies do mundo. É a savana mais biodiversa do mundo. É, a gente vê savana, filme do ´´Rei leão´´, savana africana, e várias dessas imagens que a gente tem. Mas a savana que tem mais plantas e mais animais no mundo é o nosso Cerrado. Ok?
Mas onde está essa diversidade? Outra coisa que eu queria mostrar para vocês. Essa diversidade está, principalmente, nesse estrato de gramíneas, nesse estrato herbáceo, que a gente chama. Para cada espécie de árvore, a gente tem 8 espécies de estrato herbáceo. Então, a gente tem 8 espécies de gramíneas, de arbustos, de ervas. Dessas coisas pequenas, a gente já encontrou nas nossas pesquisas até 50 espécies. Então, são plantas diferentes, não 50 indivíduos, mas 50 plantas diferentes em um metro quadrado. Em um metro quadrado, a gente pode encontrar 50 espécies de plantas, quando a gente olha para baixo e vê a diversidade desses campos, que às vezes parecem homogêneos, mas são extremamente diversos.
Tudo isso, todas as a estrutura do Cerrado, a diversidade dele, a forma como ele se constrói, permite que o Cerrado nos forneça diversos serviços ecossistêmicos. Serviços ecossistêmicos, são esses bens que a vegetação, que é a biodiversidade que os ecossistemas trazem para as pessoas. Que a gente recebe, usa na nossa sociedade, usa na nossa economia, mas que não pagamos por eles. Então, muitas vezes isso fica meio difícil da gente enxergar. Tem dois serviços que são muito fáceis. Primeiro, é o que vocês estão aqui interessados, que é a água. Então a água é um serviço ecossistêmico, assim, a gente percebe o quanto a vegetação importa para produção de água e ela é palpável. A gente sabe que falta de água gera falta de economia, certo? O outro é alimentação. Então, a gente sabe também que os ecossistemas são essenciais para alimentação, comida, produzir comida é fácil de mensurar. A gente tem o preço da comida, mas existem serviços ecossistêmicos que não são fáceis de mensurar. Aqui a gente tem um que é a polinização. É muito difícil colocar um preço no serviço, que é abelhas, ou pássaros ou qualquer outro tipo de ser vivo faz, para polinizar nossa nossa alimentação. Mas grande parte da alimentação do planeta depende de abelhas nativas ou não, para fazer a fertilização das flores e produção de frutas e de legumes, que são de interesses comerciais. E um outro outro serviço ecossistêmico, que é muito difícil da gente mensurar, da gente calcular, é a diversidade genética. A diversidade genética, e essa imagem aqui está mostrando isso, isso aqui é uma árvore de Sucupira. Ela permite que a gente consiga encontrar soluções para agricultura, soluções para farmacêuticas, soluções alimentares que ainda estão escondidas. Então, toda a maior parte dos medicamentos que nós conhecemos vêm dos ecossistemas. Então, aqui é um exemplo de um óleo de Sucupira que é produzido por essa árvore. Então essa diversidade genética, essa alta diversidade do Cerrado também é um serviço que é difícil da gente mensurar, porque a gente não paga por ele. Mas ele está aí nos ajudando a construir a sociedade que nós temos. Beleza?
Bom, pensando nesses serviços, o que agente tem mais interesse aqui, né? Isso é o serviço hídrico, né? O fornecimento de água que o Cerrado pode trazer para a gente. E eu queria ajudar a gente a pensar o porquê que o Cerrado é o berço das águas do Brasil. O que que faz aqui ter tanta água, produzir tanta água e distribuir água para o país? Essa imagem de novo é uma imagem de veredas. Às vezes eu gosto bastante de Vereda que eu trabalho com elas, então, vai mostrar um monte de foto de Vereda. Mas ela é importante porque, aqui, são as principais nascentes do Cerrado, elas ocorrem em vegetações como essa e que são pequenininhas, aqui, tem um riozinho pequenininho, aqui, mas somando todas as os riozinhos pequenos que correm nas veredas, a gente tem informações de grandes rios no país. O que que o Cerrado tem de diferente que permite isso? O que que o Cerrado tem que outros ecossistemas não tem? Para a gente entender isso, a gente tem que entender um pouco como é o ciclo da água nos nossos ecossistemas, assim como a água que chega até aqui. Para a produção de chuva, a gente tem uma influência muito importante do oceano e das florestas. Então, toda chuva que cai nos continentes, a maior parte delas, parte da evaporação da água do oceano. Então a água do oceano evapora, é carregada, e somada com outras evaporações dentro do continente e isso forma chuva, isso forma água na atmosfera. Vocês já ouviram a história dos rios voadores, que a Amazônia tem rios voadores? Então os rios voadores basicamente são a água que vem do oceano. Ela circula na atmosfera até chegar na Amazônia. Na Amazônia também tem uma grande evaporação de água que encontra os Andes, retorna e vem chover aqui no sudeste. Isso é uma, a gente tem ainda algumas discussões sobre como isso acontece de verdade, mas isso é uma teoria que está bem disseminada no público geral. Então esses dois ecossistemas permitem que a água saia da nossa Biosfera e chegue na atmosfera. Esse é o segredo desses ecossistemas que produz chuva. Então ela é carregada pelos ventos e chega em diferentes partes do planeta. O segredo do Cerrado é fazer essa água que cai da chuva, infiltrar e formar rios e abastecer água subterrânea. Então, o que o Cerrado faz de diferente dessas formações que leva água para atmosfera? O Cerrado pega água da atmosfera e leva para debaixo da Terra. É isso! É esse o ponto, a importância do Cerrado para o nosso continente. A importância do Cerrado para o nosso país. Pegar água da chuva e levar para as reservas subterrâneas. Como que o Cerrado faz isso? Primeiro nós temos árvores e arbustos que buscam água muito profunda, porque nós temos uma estação seca bem demarcada, né? Então, como a gente tem períodos, meses com muita seca, a gente tem vegetações que vão lá embaixo buscar água. Eu trouxe as imagens desse pesquisador aqui, esse Félix helstister, eu não sei falar o nome dele não, heavytister, sei lá, de 1948. Em 1948, ninguém tinha WhatsApp, ninguém tinha prazo para entregar, tinha prazo, né, mas os prazos eram mais longos, as pessoas faziam pesquisa por 10 anos e o que ele gostava de fazer era desenterrar raízes, então ele ficava lá do lado de uma planta desenterrando raízes, desenterrando, desenterrando. Desenterrando para ver como são as raízes das plantas. E essa aqui é uma andira. Ele desenterrou essa raiz e também não era fácil fotografar as coisas em campo, até porque demorou anos para desenterrar essas raízes. Então ele desenhava. E aqui ele traz esse exemplo aqui, dessa andira que é essa plantinha aqui, ó, está vendo? São algumas folhinhas para fora, algumas folhinhas, alguns frutos dessa altura muito baixinha, mas que ele encontrou raízes até 18 metros. Então essa planta, ela estava produzindo raízes até 18 metros. Essa planta é basicamente uma árvore enterrada. Então a gente tem as suas folhas, só a copa da árvore saindo para fora e lá embaixo todas as raízes enterradas. Ele fez isso para várias plantas e mostrou para gente nos primórdios, (opa!, falei alto agora), a importância da estrutura subterrânea do Cerrado para manutenção de biomassa, para estrutura da vegetação do Cerrado. Então, aqui a gente tem várias imagens, isso aqui é algodão do Cerrado, essa aqui é, esqueci o nome dessa planta, mas tudo bem, várias plantas mostrando o tamanho das estruturas subterrâneas. Então essa aqui ele cavou até um metro e quarenta de profundidade, esse algodão do Cerrado aqui, ele cavou até dois metros, mas a raiz continuava.
Aqui, uma Palmeira com 50 centímetros, só as folhas da Palmeira para fora. Todo o resto debaixo da Terra e aqui até um metro e 80, também, essa aristolóquia que são folhinhas de um centímetro, não 5 centímetros. Essa folhinha aqui tem 5 centímetros, mas tem até dois metros de profundidade desse tronco gigantesco. Então grande parte da biomassa do Cerrado está estocada debaixo da Terra, 75% dessa biomassa. Então a gente fala que o Cerrado é uma floresta invertida. Aqui a gente tem mais algumas fotos disso que não vai dar para ver direito, mas essa raiz aqui dessa árvore, ela é bem grossa e está vindo até aqui. Essa Arvorezinha é pequenininha aqui, ó. A raiz se prolonga. Isso aqui é um metro e a raiz tem se tá se prolongando lá para baixo. E aqui a gente tem uma outra estrutura radicular bem grossa, as folhinhas pequenas e a planta com uma estrutura bem grossa de raiz aqui, uma biomassa muito estocada. O que é que isso faz de diferença no Cerrado? Isso permite com que o solo tenha porosidade e que a água que cai da chuva infiltre até profundidades muito, muito longas, até aquíferos que estão bem enterrados até o lençol freático lá embaixo. Porque a gente tem até 18 metros, 20 metros de raízes. Então, isso ajuda a tirar a compactação do solo, isso ajuda com que a água vai infiltrando até as maiores profundidades.
Mas esse não é o grande segredo do Cerrado. O grande segredo do Cerrado é a vegetação aberta. É que no Cerrado nós temos uma extensão relevante de campos e de ecossistemas, com poucas árvores. E plantas são como nós, uma pessoa de dois metros come um pratão muito maior do que eu como de um metro e sessenta. Então bebe muita água, mais também do que eu bebo com um metro e sessenta. Plantas de dez, vinte metros bebem muita água, usam muito mais água do que a gramínea de vinte centímetros. Então, essa água que as árvores usam, é retirada do solo e enviada para atmosfera, produzindo chuva. As gramíneas retiram muito menos água do solo e muito mais água que cai da chuva, pode filtrar e pouca água é e transpirada por essas plantas, permitindo a infiltração dessa água nas estruturas subterrâneas.
Aqui a gente tem um esqueminha mostrando muito bem isso. Quando você tá tomando chuva na rua, e tomando chuva dentro de uma mata ou dentro de uma matinha, dentro de uma rua arborizada. Em qual circunstância você mais se molha? Na rua aberta, né? Sem nenhuma árvore. Mesma coisa numa floresta ou numa área com bastante vegetação florestal, com bastante árvore. Grande parte da chuva fica acumulada aqui na copa, fica presa na copa e nunca chega ao solo. E essa água que fica presa na copa, ela vai transpirar, então ela vai transpirar, ela vai evaporar, ela vai ser perdida a partir do sol. Quando a gente tem uma vegetação aberta que permite que essa água chegue no solo, que ela não fique toda presa, na copa, que são as vegetações de campo, savanas, cerradão do Cerrado, que a gente permite que a água infiltre melhor, a água consegue chegar no solo. Água que chega no solo, ela vai se infiltrar, mas ela também vai ser absorvida pelas plantas. Então, a água que chega vai ser absorvida pelas plantas de acordo com a demanda dessas plantas. Então, aqui no nosso, no nosso exemplo, a água que desce, a mesma chuva que desce parte dela é contida pelas árvores. Mas nos campos ela não é contida pela copa. Ela consegue infiltrar. Os campos com aquelas árvores de países de raízes profundas, consegue permitir que a água desça, e muita pouca água é absorvida novamente e enviada para a atmosfera, permitindo o abastecimento desse lençol. Já nas florestas, grande parte dessa água que chega aqui nessa primeira camada é absorvida pela árvore e transferida para a atmosfera novamente. Então, o segredo do Cerrado tá nessa vegetação que permite a água entrar. Isso permite, aqui a gente tem mais um exemplo falando dessa densidade de árvores, então essa a Giselda Durigan mostrou, fez esse artigo para gente, mostrando que quando aumenta a biomassa ou a densidade de árvores, aumenta o estoque de carbono, a biomassa que eu tenho naquelas floresta, naquelas vegetações. Mas diminui a riqueza de espécies, como eu mostrei para vocês que a maior riqueza está na vegetação, herbácea e diminui a recarga dos aquíferos, porque a água começa a ser transferida para atmosfera novamente e não infiltrada.
(Frases que não é possível entender sem o contexto das fotos compartilhadas no Material da Palestra).
É, então os campos e savanas, eles permitem. Quando a gente olha nessa paisagem novamente, esses campos e savanas vão permitir grande infiltração dessa água para os aquíferos que vai aflorar formando os campos úmidos, as veredas e os rios e, principalmente, os rios vai liberando essa água de maneira lenta, que permite que a gente tenha rios perenes no ecossistema, que é sazonal, que a gente tem uma estação seca super marcada, a gente tem meses que não chove nada, mas mesmo assim nós temos rios perenes. Porque a gente tem muita água acumulada na superfície, e debaixo da superfície, que aflora nesses ecossistemas durante esses períodos de chuva. Legal? Permite que a gente tenha coisas como essa no Cerrado, cachoeiras, que você vai, tanto parques nacionais têm cachoeiras. Essa é aqui em Patrocínio, eu não sei se alguém conhece, mas tantas águas, tanta água, tanto rio, tanta pujança de água, de recursos hídricos no Cerrado é por conta desse funcionamento.
Quando a gente olha para escala nacional, porque o Cerrado é o berço das águas, a gente entende um pouco melhor. Então aqui é um mapa da elevação do país. A gente vê que aqui para o norte é mais baixo. A gente tem um Pantanal aqui, uma área super baixa, e a gente tem o Cerrado localizado bem aqui no meio, que é a parte mais alta do país. Estamos no Planalto central, o Planalto central do país. Então o Cerrado, ele está inserido nessa parte. E tirando aqui o Serra, Serra do mar, que é mais alto do que aonde nós estamos, todo arredor é mais baixo. Então toda essa água que nasce aqui onde ele está, que pode ser abastecida nos aquíferos e nasce formando rios, ela escorre para todas as outras regiões do país. Então escorre aqui para caatinga, escorre para Amazonas, escorre para o Pantanal, escorre para os outros países da América Latina. E isso faz com que o Cerrado contribua com oito das principais bacias hidrográficas das doze no país. Então os oito, da quase mais de 50%, né? Oito das bacias hidrográficas, elas nascem aqui e os principais rios nascem no Cerrado. Então, a gente tem contribuição para bacia amazônica, parte da bacia amazônica nasce nos Andes, parte da base amazônica nasce no Cerrado. A bacia do São Francisco, que alimenta todo o semi árido brasileiro, que é super importante para a manutenção do nordeste, nasce no Cerrado. A bacia do Paraná que vai alimentar, é a bacia do Paraná e do Paraguai, né? Que vai alimentar o resto da América Latina, também nasce no Cerrado. Bacia do Paranaíba, que já vai desaguar em Tocantins e Araguaia, que alimenta os estados do Cerrado. Mas todas essas bacias, elas nascem aqui dentro e tem a contribuição dessa água, dessa recarga subterrânea para manutenção dos recursos hídricos no país inteiro.
Quando a gente pensa em Aquífero também, três grandes aquíferos do Brasil também são abastecidos pelo Cerrado. O Aquífero Guarani que todo mundo conhece, é famoso. Mas dois aquíferos, Urucuia ou Cambuí, que são responsáveis por abastecer o semiárido, e também abastecer a bacia do São Francisco. Tudo isso depende da água do Cerrado para poder se manter. Então o Cerrado é responsável pelo abastecimento de 43% da água aflorada do país, fora da Amazônia, então 43% da água do país, se a gente tira a Amazônia, vem do Cerrado. Então manter o Cerrado vivo é fundamental para que essa água chegue nos rios. E para que a gente possa beber água e plantar localmente. Então, para que a gente consiga ter essa água localmente, mas também para garantir que ela chegue em outras regiões do país. Mas a gente sabe que o Cerrado não promove só isso. E agora eu queria falar rapidinho para vocês sobre algumas outras vantagens de se manter, de se pensar no Cerrado, de se manter o Cerrado como ele é.
Mas, então, existem outros serviços, outros bens que o Cerrado traz para gente que não só água. A água é o mais pujante deles, mas eu queria mostrar alguns outros para vocês. Mas eu sei que também o Cerrado ele garante algumas limitações para a produção. O Cerrado tem algumas características que a gente precisa alterar para conseguir ter uma produção, uma alta produção, certo? A gente tem algumas limitações no ecossistema, que comprometem o crescimento de plantas. Que tipo de limitação são essas? O que é que o Cerrado tem que a gente precisa às vezes alterar um pouco para conseguir fazer uma produção de café de qualidade, conseguir plantar soja. O que é que vocês imaginam? Quais são as 2 ou 3 ou 4, quais são as grandes? Acidez, talvez, falta chuva também é uma limitação ou não para vocês? Então a gente também tem um período muito grande sem chuva no Cerrado, então sim, acidez. A gente sabe que o primeiro desafio que a gente tem, o solo de Cerrado, é ácido. E a acidez compromete a disponibilidade de nutrientes. Ok? Então quanto mais ácidos, mais indisponível são esses nutrientes. É, e alguns nutrientes que são, que ficam ficam disponíveis, como o ferro e o alumínio que não tá nessa imagem, eles podem ser tóxicos para as plantas. Então o Cerrado, ele tem pH ácido que podem comprometer isso. Por isso, às vezes, para a gente conseguir ter produções. E a gente faz estocagem em adubação nessas áreas. Certo, para conseguir aumentar essa acidez e disponibilizar nutrientes. Mas tem alguns estudos mostrando que a adubação fosfatada, por exemplo, e a calagem, por conta das altas concentrações de alumínio e ferro, pode mobilizar até 50% do fósforo adicionado. Então, esse alumínio e ferro que ficam em altas concentrações no Cerrado, eles se juntam a esses outros nutrientes e impedem que eles estejam disponíveis para as plantas. Então, a gente gasta nutrientes, o nutriente está lá. Não quer dizer que o solo de Cerrado é pobre. Existem solos muito mais pobres do que o solo de Cerrado, é, mas o solo do Cerrado tem indisponibilidade de nutrientes que, por conta desses desses outros nutrientes presos, não permite que as plantas os usem. E aí a pergunta que fica é, como tantas plantas nativas, e aí eu falei que é a savana mais biodiversa do planeta, como tem tanta planta num solo pobre, com um pouco nutriente? Tem várias estratégias que as plantas usam para isso, várias, crescimento lento, elas conseguem usar melhor os nutrientes. Mas eu queria mostrar uma estratégia para vocês que é muito peculiar, que é raríssima nas plantas do planeta, que é essa liberação de carboxilatos, que são substâncias que ajudam a disponibilizar o fósforo. Isso é raríssimo. O nosso grupo mostrou isso em algumas pesquisas passadas. Vocês estão vendo essas raízes aqui, cheias de pelinhos, muitos pelinhos, isso permite que as plantas vivam nos solos mais pobres do planeta, os solos mais pobres do planeta tem esse tipo de estratégia, que é a liberação dessas substâncias para a emissão, para a disponibilização do fósforo e inclusive outras plantas acabam usando isso como estratégia. Elas se juntam e absorvem junto. Elas se ajudam umas às outras ou competem umas com as outras por conta dessa liberação, desse fósforo. Essa liberação de carboxilato, ela pode ser tão extrema que permite, inclusive, que plantas comam rocha. Então, a gente mostrou essa pesquisa, nos últimos cinco anos, várias pesquisas parecidas sobre isso, com essa planta, que é uma Vellozia que ocorre no Cerrado lá no espinhaço, lá na região de Diamantina. E ela cresce, vocês estão vendo aqui as raízes crescem em cima de rochas e na curiosidade de saber como essa planta se alimenta, de qual nutriente que ela pega, aqui tem uma outra imagem mostrando o buraco que tem aqui, e a planta vai se enfiando nessas fissuras que a rocha tem. Na curiosidade de entender melhor, os pesquisadores, nossos colegas, eles fizeram uma lâmina, tipo uma lâmina de laboratório para você ver microscópio de rocha e encontraram raízes dentro da rocha. A planta coloca as raízes dentro da rocha até encontrar um núcleo de nutrientes super denso. Quando encontram esse núcleo de nutrientes, as raízes, em volta do núcleo de nutrientes, elas se reproduzem com essas raízes cheias de pelinhos. E conseguem absorver o fósforo da rocha. Então essa estratégia é tão extrema que ela consegue comer rocha. Ok? Então, legal! O Cerrado tem coisas interessantes.
(Frases que não é possível entender sem o contexto das fotos compartilhadas no Material da Palestra).
O outro desafio é a grande sazonalidade climática do Cerrado. Então a gente tem um verão muito chuvoso e um inverno muito seco. Isso aqui é o gráfico de chuva aqui de Patrocínio, também. A gente tem até um pouco de chuva aqui em Patrocínio. Isso traz uma demanda de irrigação que gasta o nosso recurso hídrico, que pode comprometer, a longo prazo, os recursos hídricos do Cerrado. E a gente tem aumentado a irrigação no país de maneira muito rápida, principalmente, no Cerrado. Como as plantas do Cerrado sobrevivem sem irrigação? Também, tem várias estratégias. Uma delas eu já falei, aquelas raízes profundas que vão lá embaixo buscar água, puxar Mas tem outras estratégias, e tem uma estratégia muito peculiar, também, de uma planta muito específica, que é interessante pra gente. Que são estratégias únicas de tolerância à seca extrema. Essa planta aqui, que é outra Vellozia, ela consegue ressuscitar, gente. Não sei se vocês estão vendo, a gente chama de ressurgência. Se vocês estão vendo essa última imagem aqui, a planta ficou secando por semanas e na sexta semana ela recebeu água novamente. Aqui até a semana quatro, e aqui na semana dez ela recebe água novamente. As próprias folhas, as mesmas folhas, normalmente as plantas perdem as folhas quando seca. Elas voltam a ficar verdes, ela praticamente mata todas as células, diminui como um tipo de hibernação, diminui em grande proporção os nutrientes, às células, as proteínas que vem dentro da planta e quando ela recebe água, ela volta a ser ressurgente. Isso é uma estratégia que a gente viu pouquíssimas vezes na natureza e que tem grande interesse para gente. Porque eu estou falando dessas estratégias que as plantas do Cerrado tem. Porque isso são tesouros ainda ocultos, que se a gente não conhece a biodiversidade, a gente nunca vai entender o funcionamento dessas plantas. E isso, aliado à tecnologia, pode trazer cultivares mais resistentes à seca, à falta de nutrientes, produções mais sustentáveis que podem usar menos água, que podem usar menos adubação e sistemas produtivos mais resilientes às mudanças do futuro. E eu não estou tirando isso da minha cabeça, juro para vocês.
Um mês atrás, saiu uma pesquisa exatamente com aquela planta que ressuscita, fazendo, o pessoal da Embrapa com a Unicamp, eles produziram um cultivar de soja com maior resistência seca, a partir do DNA dessa planta que ressurge. A soja não ressurge, mas ela tem estratégias de lidar com a seca muito mais extremas. E aqui tem uma outra notícia que saiu em 2022, dos Campos Rupestres, que é uma parte do Cerrado que abriga bactérias capazes de capturar e disponibilizar fósforos para as plantas, o que pode ser usado para a gente melhorar também a produtividade. Então, o Cerrado tem várias dessas estratégias, que se a gente perder a biodiversidade, a gente pode perder a chance de produzir e cultivar mais resilientes às mudanças no futuro. Ok? Legal.
Falei para vocês de água, um pouquinho dessa biodiversidade genética, e aí, só que tudo isso mostra a importância da conservação do Cerrado, mas a importância da conservação do Cerrado. É importante a gente ter Cerrado, mas é importante a gente ter Cerrado perto? É Importante que a minha fazenda tenha um pouco de Cerrado em volta e um pouco de produção, também? Para os recursos hídricos? Vocês discutem isso muito, sim, é importante para a gente recarregar o aquífero ali da sua região e aquilo nascer. Mas para outros serviços é importante também? Foi isso que outros pesquisadores da UFVJM, lá em Diamantina, também se perguntaram. E essa imagem aqui de uma produção aqui perto, eu não sei qual fazenda, mas eu peguei aqui, também, da região. E eles perguntaram que, aqui nessa beira que é um Cerradinho, tem maior alta, tem mais diversidade de plantas, têm mais diversidade de insetos. Será que tem maior polinização? O café não depende necessariamente de polinização por animais, né? Ele é polinizado pelo vento, pela gravidade, a maior parte dos das produções de café. Mas será que com maior polinização a gente consegue melhorar a produção de café? Foi isso que eles perguntaram. Então eles publicaram esse artigo há um mês atrás. Nasceu em fevereiro de 2024 mostrando isso. Tem esse post aqui no blog em português para quem tiver curiosidade para entender melhor. O que eles fizeram para responder essa pergunta? Primeiro eles tentaram entender se tem mais visitação de abelhas nas beiras do Cerrado do que no interior. Então eles pegaram as localizações aqui, no Cerrado, localização na borda da vegetação da plantação de café e localizações no interior da plantação de café. Eles usaram essas casinhas de abelhas nativas sem ferrão. É nativas sem ferrão, não. Essas sem ferrão são nativas solitárias, essas aqui são solitárias, as abelhas solitárias para tentar identificar. Colocaram essas casinhas aqui dentro, casinhas na borda e casinhas lá fora e tentaram identificar quantas abelhas chegaram ou não. Além disso, eles ficaram sentados lá, um trabalho bem chato, olhando as flores, chega uma abelha, anota, chega duas abelhas, a nota, nessas localizações. Então eles identificaram, tinha mais abelhas dentro ou fora do Cerrado, dentro ou fora da plantação, ok? Só que isso não responde muita coisa sobre a produção do café. Eles queriam saber se essa presença de abelhas aumenta a influência na produção do café. O que eles fizeram para isso? Eles pegaram as flores, também, dentro, fora, na borda e dentro da plantação de café. Algumas flores eles deixaram disponíveis para as abelhas polinizarem, mas algumas algumas flores eles cobriram e impediram que as abelhas polinizassem. Então, essas flores que eles cobriram com esse voal aqui, elas eram apenas polinizadas pelo vento e pela gravidade, enquanto as flores que estavam disponíveis, além do vento e da gravidade, tinha as abelhas polinizando. O que que eles encontraram? Eles encontraram sete vezes mais abelhas nas bordas do cafezal. Ok, esperado né! Se ali tem Cerrado, tem mais abelhas na borda do cafezal. O que que isso significa? Eles encontraram para as plantas polinizadas por abelhas, uma produção 50% maior. Então as plantas das bordas, plantas polinizadas por abelhas nas bordas, tinham uma produção 50% maior do que as plantas que estavam ao redor, então das que estavam no interior, sem a polinização por abelhas. E os frutos das bordas, eles eram mais densos, mais redondos, com melhor qualidade para o processamento, com melhor qualidade final. Eles tentaram entender o que que isso representava para o produtor e eles encontraram um lucro extra para as plantas polinizadas por abelhas de 8.700 reais por hectare. Se esse produtor que eles fizeram a pesquisa tivesse todo a produção dele com o mesmo grau de polinização que ele tem na borda, esse produtor teria recebido mais ou menos 970 mil reais a mais naquela safra. Então, quase um milhão a mais só pela polinização das abelhas, sem uma interferência maior. Claro que, a mesma polinização que tem na borda vai ser impossível, mas eles recomendam algumas estratégias. Como colocar e melhorar a qualidade, melhorar os fragmentos de Cerrado e melhorar a disponibilidade de flores nas entrelinhas e outros tipos de estratégias para trazer mais polinização para dentro da lavoura de café.
Então, o que eu queria mostrar para vocês é que o Cerrado, a forma como ele é, o jeito que ele é, ele fornece muitos serviços ecossistêmicos valiosos. Mas não é um tipo de Cerrado, é toda a diversidade de vegetação do Cerrado. As árvores que tem flores que permitem a polinização, os campos abertos que permitem a filtração da água, os campos úmidos que permitem que a água nasça. Tudo isso, são composições que permitem que todos esses serviços e a biodiversidade também, que às vezes é difícil para a gente mensurar, mas que pode ser um tesouro muito valioso para o futuro, assim, para a gente produzir algum cultivar que vai ser chave para produção no futuro, que vai ser mais sustentável. Por isso é importante que a gente construa paisagens multifuncionais, que eu acredito é, pelo que eu entendi, o que vocês estão tentando fazer aqui, que é conciliar a produção com conservação, de maneira que a gente consiga ter numa mesma paisagem, campos úmidos, campos abertos, cerrado, floresta, floresta protegendo rios, mata protegendo nascentes, veredas protegendo nascentes e vegetação para produzir colonização, para produzir biodiversidade e além de outros serviços que a gente não falou aqui, mas tem vários. Garantindo que sim, que a gente tem uma agricultura mais resiliente e, às essas mudanças que é a grande pauta, e sem abrir mão desses bens valiosíssimos, que o Cerrado nos fornece. Está bom? É isso. Espero que tenha mostrado um pouco para vocês dessa minha paixão pelo Cerrado, que tenha conseguido contagiar vocês um pouquinho e ter trazido mais detalhes, desse ecossistema que é tão legal, tá bom. Obrigada.
Comentário | Produtor
É, levando em consideração o que você demonstrou pra gente que quando o Cerrado é raso, ele absorve mais água, né, e automaticamente não tem árvores maiores que vai usufruir dessa água subterrânea, a gente vê muito também quando tem um Cerrado ralo, a gente tenta enriquecer aquele Cerrado plantando árvores de grande porte, também, que é nativa de Cerrado, mas, não é uma gramínea, então, automaticamente ela vai absorver mais água. Então, levando em conta a conservação de água subterrânea, não é vantajoso então fazer plantação, mesmo que seja nativa, mas de árvores maiores nesse em torno desse dessa vegetação rala? Oque você me explica?
Larissa Verona | Bióloga e professora pela UNICAMP
As árvores grandes, elas são importantes tanto para infiltração. Então, para essas raízes super grandes que elas têm, quanto elas fazem parte do ecossistema. Mas é importante, o que pode ser perigoso é se a gente transformar todo o Cerrado num grande adensamento de árvores. A gente quer plantar uma floresta, uma grande floresta, em todo o Cerrado. É importante que a gente mantenha essa diversidade. Então, quando vocês estão tentando enriquecer o ecossistema que provavelmente tem só as gramas, provavelmente, se é um ecossistema degradado, as gramas não são nativas e um dos grandes problemas do Cerrado é a invasão por programas, braquiária, por melinas, por todas essas gramas, certo? Isso é um grande desafio. Então, essas gramas nativas, esse ecossistema que talvez fosse uma pastagem, uma plantação antiga, ele tem um solo muito compactado. E esse solo compactado, mesmo que transpire pouco, ele não permite que a água infiltre, ele permite o escoamento superficial. Então, as plantas grandes, elas têm essa função de melhorar essa porosidade. Mas também é importante que a gente tenha esses ecossistemas abertos, conservados, para permitir também a infiltração junto com algumas árvores. Então é importante. Mas é importante que a gente mantenha os tipos de vegetação. Faz sentido? A gente tenta trazer a pauta das vegetações abertas para mostrar a relevância delas, mas as vegetações arbóreas também tem sua grande relevância. De nada.
Polliana Dias | Cerimonialista
O Adriano já abriu aqui a parte das perguntas, né? Então tá aberto, Marcos tem uma pergunta, né.
Comentário | Produtor
Não é uma pergunta, é uma consideração. Primeiro, parabéns, muito didática a maneira como se apresentou o Cerrado. Eu, particularmente, nunca tinha assistido uma apresentação tão bem feita nesse sentido. E aí eu trago uma preocupação, porque aqui acaba que, por a gente tá no Alto Paranaíba, a cafeicultura, talvez não tenha esse olhar tão aprofundado. E aí, fruto da parceria com o próprio Consórcio, a gente já fez zoneamento ambiental de duas sub bacias. Nessa região do Alto Paranaíba e noroeste. Já foram mais de dez sub-bacias. São um milhão e meio de hectares já mapeados. E aí acho que o que a gente acaba enfrentando sempre de maior desafio, a área de pastagem degradada que a gente tem na região. Tem, aproximadamente sub bacias com quase 50% completamente compactado, tapado. A gente tem uma região muito próxima daqui de altitude, de relevante território, como Presidente Olegário, de processo de desertificação acelerado e quando acontece chuvas como vieram do ano de 2022 e que pode, com certeza, vai se repetir de graves problemas, de rompimento de pontes, de processo ainda de assoreamento do rio da Prata, que vai para o Paracatu, que vai para o São Francisco. E, talvez, assim, eu não sei quais, esse para mim é o quinto desafio, mas talvez o maior deles, e, um convite ao Consórcio, que ele foca talvez no primeiro momento, o café, mas da gravidade que a gente tem hoje, da sua, queria sua visão sobre as enormes áreas de pastagem degradada e que hora que a gente vai fazer algo, não só o dono da terra lá, mas que hora que a gente vai ter uma atitude de fato organizada. E eu acho que o Consórcio é, naturalmente, mas da gravidade da situação que a gente se encontra no momento que a gente está vendo.
Larissa Verona | Bióloga e professora pela UNICAMP
Com certeza, a gente estava falando mais cedo. O grande desafio da conservação do Cerrado hoje e da restauração e de pensar paisagens resilientes, Assim, são as passagens degradadas. É, principalmente quando a gente trabalha muito com esta restauração, também, quando a gente faz essa restauração, a gente está tentando trazer esse estrato herbáceo. Quando a gente planta árvores, é mais fácil comprometer, é mais fácil tirar a braquiária, a passagem degradada. Você primeiro gradeia, você tira essa compactação, aí você planta árvore sombreia e a braquiária vai embora. Mas quando a gente quer plantar campo, quando a gente quer plantar savana, a gente não tem uma solução ainda assim, não temos. A gente está tentando várias estratégias. Uma estratégia que a gente tem é a estratégia do gradeamento para diminuir a compactação e permitir a infiltração de água, quando você pensa em biodiversidade, ela talvez não seja a melhor solução, porque quando você gradeia, você pega a semente das plantas que são invasoras e coloca para cima. E aí isso faz com que aquelas sementes, que estão muito erradas há muito tempo, renasçam e aquela pastagem continue sendo pastagem. É difícil plantar Cerrado ali de volta. Uma estratégia que a gente tem feito tem funcionado, mas ela não tem escala ainda. Está muito difícil escalar, é tirar ``topsoil´´. Então, a gente está, tirar ``topsoil´´, retirar 40 centímetros do solo. A gente fez um experimento, agora, não é grande, assim, ele não deve ter 2 hectares, 3 hectares, tirando esse ``topsoil´´ para plantar Cerrado. E a produtora pegou essa terra de 2, 3 centímetros e refez as estradas. Aí teve uma função, mas se não for isso, o que você faz com a terra que você tira de hectares de área? Não tem o que fazer. Mas até então foi uma solução que a gente está encontrando para lidar com essa vegetação e aí para lidar com compactação. Maquinário ou plantio de árvores, de algumas árvores para ajudar nessa infiltração. Mas com certeza esse é um grande desafio, porque são paisagens de difícil produção e com difícil restauração. A gente restaura a floresta muito fácil, muito fácil. A gente tem muitos anos de restauração da floresta, as coisas são muito já bem feitas, assim, a gente tem umas florestas muito bonitas. Se você quer restaurar campo, a gente tem um carinho enorme, desde que, o primeiro deles, é lidar com a passagem degradada e lidar com a braquiária. Não sei quando que a gente vai conseguir pensar nisso a longo prazo, mas talvez seja um dos caminhos para a gente pensar, essa restauração dessas diversidades de ecossistemas. A gente precisa restaurar a beira do rio, mas a gente também precisa restaurar o campo para infiltração dessa água, para que a água continue sendo perena nos rios. Faz sentido? Não sei se eu te respondo de verdade que é um desafio que a gente não sabe.
Comentário | Produtor
Larissa, parabéns pela palestra. Na cafeicultura regenerativa, a gente usa muita planta de cobertura aqui. Faz sentido alguma dessas plantas nativas do Cerrado a gente usar como planta de cobertura? E tem alguma pesquisa já para a gente pensar em adotar isso?
Larissa Verona | Bióloga e professora pela UNICAMP
Sim. É, a gente tem algumas plantas que são usadas, principalmente restauração é a parte que eu tenho mais contato, as plantas do Cerrado, normalmente elas são lentas, então elas não têm, a gente não tem tanto interesse na agricultura para elas, então vão plantar como planta de cobertura, vai demorar a crescer. Mas tem algumas plantas que são plantas ruderais que a gente chama, que são mais rápidas, que elas são nativas, mas elas ocorrem nesses limiares, que tem o amargoso, tem algumas, depois eu lembro o nome da espécie, mas é um arbustinho assim, tem umas fabaceas também, que são umas leguminosas, os arbustinhos que são muito utilizados, crescem muito e tanto são utilizados na restauração que talvez possam ter a mesma função de planta de cobertura quando a gente pensa em café, e possa aumentar a biodiversidade, trazer animais, insetos que são nativos. Eu posso ter esse material, o material no site do Consórcio tem um material do plantio direto da rede de sementes, esse material tem lá a disposição dessas sementes que são mais dadas, de plantio, mais rápido.
Comentário | Produtor
O Larissa, parabéns pela apresentação. Finalmente entendi porque o Cerrado é a caixa d'água, né, do Brasil. Isso já valeu o dia. Dentro desse processo de recuperação de pastagem existe alguma pesquisa sendo feita ou com algum resultado em cima de uma aplicação massiva de bactérias e fungos, e nessa região degradada?
Larissa Verona | Bióloga e professora pela UNICAMP
Massiva não, tem pesquisas começando. Mas é falar em larga escala, que eu saiba não.Tem várias pesquisas mostrando inóculo, né? Que a gente pega o solo nativo. Usa esse solo nativo e coloca ele diretamente, sem nenhum tipo de processo industrial. Sem um inóculo que a gente produziu, uma bactéria que a gente sabe que é muito boa e que a gente produziu comercialmente. É, então, tem essas tentativas de colocar essa essa pequena camada de solo nativo que é cheia da biodiversidade de microrganismos nas áreas de recuperação para tentar recuperar essa biodiversidade no solo. Começando. Que eu saiba, não tem nada avançado assim em larga escala. Aplicação em larga escala, não sei se alguém sabe aqui. E algo mais industrial, também, é um passo ainda de agente identificar quais são os microrganismos chave, os microrganismos que vão ser super eficientes. Aquela pesquisa que eu mostrei para vocês de liberação de fósforo, talvez seja uma delas, mas não para recuperação, e sim para tornar a produção mais sustentável, mas não para uma área nativa que, para uma área nativa, não tenha interesse de disponibilizar fósforo, porque isso vai fazer com que plantas que não são as plantas nativas, como as invasoras, consigam invadir mais fácil, que a braquiária, que são as plantas que a gente insere, homem insere, né. Então, para recuperação a gente ainda tem que identificar quais são os microrganismos chave para conseguir produzir isso em maior escala e fazer em inóculos. Mas a gente tem essa tentativa já, algumas pesquisas iniciadas usando o inóculo, a terra mesmo, com toda a bactéria que nem ali, vê se ele desenvolve daqui a uns dois, três anos a gente talvez dê uma resposta para você sobre isso, está bom?
Fabiane Sebaio | Secretária Executiva do Consórcio Cerrado das Águas
É, Marcos, eu só queria complementar, em relação à sua pergunta, das passagens degradadas. Nós tivemos lá em em Alto Paraíso a um bom tempo atrás, acho que uns quatro anos, logo que o Consórcio começou e essas pesquisas em geral são feitas lá, a Larissa também tem um trabalho lá com o professor Rafael, e assim, eu acho que a solução dessa restauração das passagens degradadas, dependendo da fitofisionomia que se tinha antigamente ali para retornar esse processo, tem que olhar para isso, mas quando a gente tá falando aí de um Cerrado, digamos, mais aberto mais rústico, que não seja floresta, eu acho que existe uma grande solução na semeadura. A questão da semeadura, que é o que a Larissa falou, um pasto normalmente, se ele for um pasto degradado, ele é mais fácil de recuperar com semeadura, e me corrige Larissa se eu tiver falando besteira, do que com plantio de mudas, é mais barato é mais rápido e mais seguro, né. Mas a grande questão é que os pastos recebem uma carga de matéria orgânica muito grande, até pelas fezes do gado, e isso acaba impedindo. Então, lá em Alto Paraíso eles tem vários experimentos, né Larissa? Onde eles fazem semeadura, mas as invasoras abafam tudo e acabam matando. Mas eu acho interessante a gente pensar nesse sentido, porque a semeadura tem um potencial não só ambiental de realmente restaurar o Cerrado, como também social. Porque para restaurar o Cerrado com semeadura direta, coletando a semente lá no Cerrado e jogando nessas áreas você tem que ter gente para fazer isso. E aí você tem um lado social muito forte, né. Então, eu acho que é esse olhar para as passagens degradadas associado, ao quando a fitofisionomia permite a semeadura direta, ela é de um potencial enorme, né. Ela é de uma grande valia, assim.
Larissa Verona | Bióloga e professora pela UNICAMP
Esqueci de falar do plantio, né. Estava pensando no desafio que é a braquiária. Mas com certeza a estratégia que a gente está usando hoje é semeadura. Assim, no país inteiro tem rede de sementes. Desculpa, gente. Com certeza a estratégia que você está usando é semeadura, essa coleta de populações tradicionais coletam e plantam, mas o desafio de lidar com a grama exótica, com a braquiária, principalmente com melines, ainda tá. A gente está tentando lidar com veneno, mas aí também o Parque Nacional, quem quer conservar não quer por veneno, mas fica nesse, nesta busca, estamos na busca. Vamos chegar lá. Aos poucos, mas com certeza.
Comentário | Produtor
Ainda ligado à pergunta do Marcos e os comentários da Fabi, também, talvez eu estenderia a pergunta para todo o grupo, não necessariamente você Larissa. Obrigado pela apresentação. Porque quando a gente fala de legislação, a gente está olhando muito para o que está em pé. E quando você tem uma intervenção, existe uma fiscalização via satélite, via denúncia, o que seja, quando existe poluição, quando você veste esgoto, água residuária, o que for para um manancial, você tem essa consequência, e você tem isso muito bem coberto dentro da legislação, né. Mas e quando a gente fala da parte comercial que tem sido discutido muito nesse quase último ano, por exemplo, legislação europeia, quanto desmatamento você está pensando no impacto das mudanças climáticas, daquele carbono que está estocado, você está jogando aquilo pra atmosfera, mas a gente esquece do fator principal, que é o solo. E eu acho que está bem ligado com a pergunta do Marcos. O que a gente tem visto exatamente, aquele produtor, não ele, né. Às vezes ele pode ser a terceira ou quarta geração, ou até mais, ou ele já pegou a situação daquele jeito. O que que existe de consequência para quem exatamente não conserva? A gente tem visto algum tipo de restrição, algum tipo de limitação de acesso a crédito. De não conseguir transferir aquela matrícula, às vezes até mesmo você ser multado, com relação a uma pastagem degradada, com relação a um processo de desertificação, processo de assoreamento ou qualquer coisa nesse sentido. O que que a gente tem visto?
Larissa Verona | Bióloga e professora pela UNICAMP
Eu acho que essa pergunta eu vou jogar pra vocês também. Que eu saiba, a gente tem uma forma de monitoramento de não cumprimento da lei de proteção da vegetação nativa, de não cumprimento da reserva legal da APP muito forte na Amazônia, tem muito interesse nisso, né? No Cerrado, a nossa aplicação do Cadastro Ambiental Rural, a conferência se isso bate com as vegetações nativas, ainda está titubeando, assim, ainda está instável. Eu não sei se alguém tem alguma resposta para isso sobre esse tipo, talvez que também tenha sobre esse tipo de punição. Eu sei que em relação a isso, ao produtor e a legislação, agora está sendo aprovado uma PL que vai permitir que áreas de campo não sejam consideradas como áreas de interesse de conservação em reserva legal e em APP. Elas vão ser todas as áreas de campo, ela passou na Câmera, agora está no Senado, vai passar para o Senado. Se for aprovada, todas as áreas de campo e de vegetações não arbóreas vão ser consideradas como de uso consolidado, então não precisa de preservação. Talvez, tenham menos estratégias legais de controle disso, aos poucos. Mas eu não sei como isso se dá hoje, não sei se alguém sabe.
Comentário | Produtor
Parabéns. Muito legal a apresentação. É, o Pampa, por exemplo, tem área grande de extrato herbáceo, né. E hoje se usa essa pastagem nativa se faz manejo econômico dela. E existe esse tipo de iniciativa ou de possibilidade no Cerrado também?
Larissa Verona | Bióloga e professora pela UNICAMP
De usar para pastagem, né? As gramas nativas não, que eu saiba também não. No Cerrado é muito expandido, produção a partir de braquiária, pastagem, plantio braquiária. Mas talvez, uma solução que alguns pesquisadores tentam apontar, a Giselda, que é a Durigan aqui que eu mostrei. Ela tenta mostrar até como solução para restauração, usar pastagem em áreas degradadas para controle de exótica, planta nativa. Mas diferente das gramas do Pampas, as gramas do Cerrado, elas têm um crescimento muito lento, elas não são tão palatáveis. Então, os animais não gostam tanto. Então, para um boi comer uma grama nativa, ele tem que tá com muita fome, é mais difícil sustentar e isso talvez cause uma sobreexploração desse pasto usando pastagem. Pra, paisagens de uso, restauração, porque não, né? Talvez a gente consiga encontrar soluções nisso. Mas tem esse detalhe que talvez não seja financeiramente viável deixar pastando, como é em populações tradicionais no Pampa, no Cerrado, como é nos Pampas que são populações tradicionais fazem isso há séculos, as famílias deixam um pasto solto comendo a graminha nativa. Mas a gramínea dos Pampas é mais gostosa para o gado do que a do Cerrado. Isso é um desafio.
Michael Becker | Presidente da Nature Invest
É, eu acho que falando um pouco de passagem degradada, eu acho que o desafio realmente é muito grande, né, porque a pastagem realmente no Cerrado, ele ocupou uma área enorme. Então são talvez vinte e oito milhões de hectares de pastagem degradada no Cerrado como um todo. Então é realmente muito grande o número. E dando alguns feedbacks, quer dizer, tem, tem várias possibilidades, a gente está falando de Cerrado, né? A gente não pode esquecer, são dois milhões de hectares, né, no Brasil inteiro. Então, tem várias situações diferentes, além das fisionomias diferentes que a gente aprendeu. Então obrigado pela bela palestra, e tem várias soluções nessas questões de punições, nem sempre são punições, realmente. Mas, a gente sabe também que o Banco do Brasil está desenvolvendo cada vez mais a sua área de sustentabilidade. Então, pela linha de crédito também não é necessariamente uma punição, mas você tem também um acesso facilitado cada vez mais, dependendo das práticas que você usar. E essas questões, né, hoje, na hora do café, a gente falou um pouquinho da nova legislação europeia e tal que está surgindo aí também. São todos pedaços, eu diria, que cooperam, por assim dizer, para você implementar cada vez melhores práticas. A gente participou, por exemplo também, só para dizer de um fundo antes que ajudou aqui também no Cerrado das Águas, onde um pesquisador da Embrapa Cerrados falou bem, muito também, vamos assim colocar realmente essas essas árvores dentro das pastagens. Ou seja, você tem realmente uma, não aquele mar verde de braquiária e sim realmente uma pastagem talvez mais diversa, com algumas árvores do Cerrado que inclusive trazem sombreamento pro gado que não é ruim, é uma maior biodiversidade. Então, eu acho que tem várias formas de manejo também da pastagem que podem trazer realmente uma maior biodiversidade para o Cerrado como um todo. E de novo, como você tem um monte até aqui, eu fiquei sabendo que tem um monte mesmo em Uberaba, Uberlândia tem um monte de gente que tem baru no pasto por exemplo, e não aproveita o baru simplesmente porque é, entre aspas, o pecuarista clássico que tá lá fazendo melhoramento genético e não aproveita o baru que tem no pasto. Então, são todas essas características que às vezes a gente tem que realmente melhorar do termo do ponto de vista de conhecer realmente a propriedade que a gente tem, para poder aproveitar então até economicamente todos esses benefícios que estão vinculados à propriedade. E a pastagem nativa é uma grande discussão sempre no Pantanal, que é o Cerrado inundado ou inundável, por assim dizer, mas com características muito similares, que tem pastagem nativa lá também, que é a Embrapa, a Embrapa Pantanal, lá de corumbá. Estou sempre fazendo essas propostas aí também para manter a pastagem nativa do Pantanal, que também pode ser utilizada para pecuária, mas aí é mais extensiva, como a gente conhece também, lá no Pantanal. E o desafio sem dúvida é grande. Existem grandes projetos também do MAPA, Banco Mundial investindo na restauração da pastagem degradada, né.
Polliana Dias | Cerimonialista
Legal, obrigada, Michel, um homem que vocês podem perguntar essas coisas.
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