Consórcio Cerrado das Águas estabelece parcerias para alcance de resultados ambientais de longo prazo
Plataforma colaborativa realiza trabalho com cafeicultores na região do Cerrado Mineiro para combate às mudanças climáticas. Parcerias ocorrem entre produtores, setores público e privado em uma iniciativa inédita.
Patrocínio-MG, fevereiro de 2021. Uma iniciativa pioneira em Patrocínio-MG tem unido cafeicultores, setores público e privado para pensarem e executarem ações que visam à preservação e conservação dos recursos naturais com o propósito de combater as mudanças climáticas. Este é o Consórcio Cerrado das Águas (CCA), uma plataforma colaborativa que une vários setores: empresas, governo e sociedade civil, para alcançar este objetivo. Desde o início de suas atividades possui uma dinâmica própria de atuação, cujo foco é oferecer estratégias para combate às mudanças climáticas e trabalho em parceria com os cafeicultores da bacia do córrego Feio, principal fonte de abastecimento hídrico do município.
Dinâmica agregadora e inclusiva
O grande diferencial do CCA é sua capacidade de estabelecer uma parceria que vai além de agregadora dos setores mencionados, mas também de ser totalmente inclusiva, entendendo as necessidades dos produtores rurais e auxiliando-os a pensar e executar ações de acordo com suas possibilidades.
Com o PIPC – Programa de Investimento no Produtor Consciente, o CCA encontrou o caminho para oferecer serviços especializados para o desenvolvimento ambiental das propriedades da bacia do Córrego Feio em três frentes: restauração, práticas agrícolas climaticamente inteligentes e gestão eficiente dos recursos hídricos. Assim, aderindo a este Programa, o produtor recebe o PIP – Plano Individual de Propriedade, elaborado pela equipe técnica e especialista do CCA para cada produtor implementar as estratégias específicas de sua fazenda alinhadas ao grande objetivo da plataforma que é resiliência climática da produção.
Os caminhos para o alcance dos objetivos
Hoje o PIPC conta com 55% dos produtores da bacia do córrego Feio participando da iniciativa, contudo, para se chegar a este número, o CCA realizou ações e atividades de engajamento com regularidade, como explica Lina Inglez, especialista em conservação da Mata Atlântica e do Cerrado, responsável pela condução do PIPC junto aos produtores.
“O engajamento dos produtores com a iniciativa é resultado de uma fase longa de vários contatos para apresentar a iniciativa e a metodologia de trabalho, bem como reuniões, divulgação em mídias locais e sociais. Em 2019, tivemos a oportunidade de realizar um evento em uma da bacia do Córrego Feio, neste encontro todos os proprietários participaram e foi apresentado, formalmente, o programa de investimento no produtor consciente, as etapas para a inscrição e realização do trabalho.”, relembra Lina.
Depois do lançamento, o CCA obedece a uma dinâmica de manter o seu relacionamento com o produtor de forma próxima e envolvendo-o em todo o processo e isso inclui os esclarecimentos gerais ao diagnóstico e apresentação das estratégias sugeridas. Após esta movimentação, são realizadas oficinas de trabalho, é nesse momento que ocorre a negociação da contrapartida que será feita pelo produtor e também do investimento que será feito pelo CCA, uma vez que, por se tratar de uma plataforma colaborativa, todos os envolvidos investem recursos financeiros, humanos ou materiais e dessa forma acontece o envolvimento em ações para o alcance dos resultados propostos. Por isso, a dinâmica de proximidade e confiança entre o produtor e a equipe do CCA é fator decisivo para o sucesso da iniciativa.
“A versão final do PIP tem total anuência do produtor, os pedidos de alteração são acolhidos pela equipe técnica. O CCA não impõe nenhuma técnica ou local de intervenção que o produtor não esteja de acordo. Há muitos produtores já bastante maduros em relação à necessidade de se ter esforço conjunto para combater os efeitos das mudanças climáticas e que, mesmo não tendo passivo ambiental, querem participar para melhorar suas APPs e reservas. Neste caso sugerimos enriquecimentos a fim de aumentar a biodiversidade dos ecossistemas naturais. Há outros produtores que querem começar com pequenas intervenções”, esclarece a especialista.
Comprometimento com as paisagens do presente e do futuro
O trabalho, que hoje gira em torno de 4.397 hectares na bacia do córrego Feio, recolhe todas as informações sobre os ecossistemas naturais, analisa imagens de satélite e avalia a posição na bacia e o impacto do manejo no local. “Trabalhamos com várias estratégias, tais como: isolamento da área, plantios consorciados, enriquecimentos, controle de cipó, coroamento de regenerantes, semeadura direta, entre outros. Neste ano usamos a espectrometria para obter todas as representações de vegetação da bacia”, conta Lina.
Dentre os objetivos do PIPC, está o de conectar paisagens com ações de conservação e restauração da vegetação nativa nas propriedades, uma vez que têm o maior impacto nos serviços ecossistêmicos, especialmente os de conservação, cujos resultados são visualizados a longo prazo
“Os resultados são mensurados com um plano de monitoramento que inicia seis meses depois. Neste plano verifica-se o crescimento das mudas, o estado geral da área. A fase de manutenção é de responsabilidade dos produtores que realizam todos os cuidados com o desenvolvimento das mudas plantadas. Um outro resultado é o envolvimento e corresponsabilidade do produtor, que se mostra cada vez mais consciente da necessidade da restauração e se dispõe a participar do processo”, informa a especialista que ressalta que toda prática adotada pode ser considerada ecológica. “Não usamos nenhum tipo de defensivo químico. Os produtos usados são: herbicida pré-emergente orgânico e um formicida também orgânico, garantindo que o sistema não fique contaminado após nossos manejos com agrotóxicos químicos e que deixem resíduos tóxicos no local. Primamos pelo manejo de áreas situadas em cabeceiras e cursos d´água a fim de aumentar a proteção da bacia e reverter áreas abertas em florestas e cerradões. A nossa equipe de campo é sempre muito bem recebida pelos produtores. E também o nível de responsabilidade dos cuidados pós-plantio por parte da maioria dos produtores é muito bom. Os plantios do ciclo passado visitados em 2020, mostram as mudas bem desenvolvidas e com baixa mortalidade”, afirma.
Próximos passos
Devido à resposta positiva da iniciativa e diante do envolvimento e participação ativa dos produtores e cadeia produtiva envolvida, o CCA planeja avançar sua área de atuação para Serra do Salitre e Coromandel, por meio de uma parceria com o Sebrae para realização do ZAP (Zoneamento Ambiental Produtivo) cujos resultados indicarão as áreas adequadas para serem realizadas intervenção e que responderão mais rapidamente ao processo de oferecer mais segurança climática as produtores locais.
Sobre o Consórcio Cerrado das Águas
Criado em 2014, em Patrocínio – MG, o Consórcio Cerrado das Águas tem como objetivo conscientizar produtores da região sobre a importância de seus ativos ambientais por meio do diagnóstico e investimento nos mesmos, garantindo sua preservação a longo prazo.
A iniciativa possui as seguintes empresas associadas: Nescafé, Expocaccer, Nespresso, Lavazza, Cooxupé, além das instituições apoiadoras como Federação dos Cafeicultores do Cerrado, CerVivo, Imaflora e IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil.
Em 2019, o projeto piloto recebeu do Fundo de Parcerias para Ecossistemas Críticos (CEPF) o valor de US$400 mil para implementar o programa que irá promover, inicialmente, o investimento e a proteção dos ecossistemas naturais encontrados em mais de 100 propriedades ao longo da bacia do Córrego Feio. A quantia é o maior subsídio já concedido pelo CEPF, que conta com exigentes doadores como a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), União Europeia, Fundo Mundial para o Ambiente (GEF), Governo do Japão e Banco Mundial.
Saiba mais acessando: http://cerradodasaguas.org.br
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Legenda imagem: Produtores e equipe do CCA em fase de formulação do PIP – Plano Individual de Propriedade.
Créditos imagem: Arquivo CCA
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